Resenha: Memória da Água


Resenha por Brunna Carolinne

Autora: Emmi Itäranta
Editora: Galera Record
Número de páginas: 288

Muitos anos se passaram, guerras foram travadas, e agora a água é escassa. Este bem tão precioso é controlado pelos militares e distribuído em pequenas cotas à população. Aliás, quem for pego roubando água ou escondendo uma fonte sofrerá terríveis consequências.
Noria vive nesse tempo e vê pessoas doentes e casas interditadas por todo o pequeno vilarejo em que mora. Mas, por ser filha e aprendiz do único mestre do chá em quilômetros, ela também observa bem de perto a outra parcela da nação: a alta sociedade (ou seja, os militares).
A jovem tem alguns privilégios que, às vezes, nem se dá conta, como um jardim bem verde e uma casa sempre limpa. Noria só fica sabendo o porquê disso quando o próprio pai revela o segredo que vem sendo mantido na família há gerações. Logo, logo será ela a responsável por manter o segredo vivo e ainda em sigilo. Entretanto, a moça não contava ficar desamparada de uma hora para outra, e nem ter os pensamentos invadidos por tantos questionamentos.
Não pensei que Memória da Água fosse me conquistar tanto. Sim, é distopia (amo!), e sim, aborda sobre a água (assunto que me chama bastante atenção), mas o início do livro foi um pouco lento e um tanto sem propósito. Parecia que nada acontecia e que nada iria acontecer. Além da protagonista e narradora, Noria, ter, irritantemente, os olhos fechados para algumas situações.
Continuei com a leitura porque queria descobrir alguns mistérios que a autora vai soltando ao poucos. E, de repente, t-u-d-o muda. A narrativa torna-se frenética e parece encontrar um foco, um propósito genial. Noria, finalmente, começa a perceber alguns acontecimentos e contestar imposições. A trama fica instigante e praticamente impossível de largar. A partir de então, simplesmente devorei o livro.
Achei muito brilhante o enredo girar em torno da questão hídrica. Creio que, daqui a um tempo, as cidades irão ficar do jeito que a autora descreve em Memória da Água. E mais que isso: durante a história, Itäranta explica como o mundo chegou até aquele ponto, e é exatamente da maneira que eu imagino. Essa identificação de pensamentos me deixou bastante vibrante. haha
O desfecho é desesperador. Não é amarradinho e implora por uma continuação. Sondei pela internet, mas não encontrei nada que indique a existência de um próximo volume. Mas eu sinceramente espero que, pelo menos na mente da autora, há a intenção de uma sequência; não aceito essa história de "você pode imaginar o que quiser a partir daí", "é para deixar uma lição subentendida". Gosto muito mais quando o autor realmente escreve tudo que quer dizer.
Um aspecto que eu acho essencial a ser destacado é a narrativa. Poética ao extremo. Eu a comparo com a própria água - às vezes calma, serena, fluindo sem pressa alguma; mas, em outros pontos, agitada, intensa, parecendo não se conter em si mesma e querendo se espalhar para outras partes. E, assim como esse fluido se mistura a praticamente tudo, a história foi se unindo a mim, entrando pelos meus olhos até chegar ao meu coração. No final, tornou-se um dos meus livros preferidos da vida.
"Os segredos nos desgastam, como a água desgasta as pedras. Na superfície nada parece mudar, mas as coisas secretas nos consomem e, lentamente, nossas vidas passam a se moldar por elas."

5 comentários

  1. Olá!
    Adorei sua resenha, fiquei com mais vontade ainda de lê-lo!
    Logo que vi a editora anunciando o lançamento desse livro fiquei empolgada, a escassez de água é um assunto da nossa atualidade e assusta ver o assunto numa distopia, o que claramente pode vir a acontecer com a nossa sociedade, mesmo trazendo aspectos fantasiosos um ponto que me conquistou nas distopias é a possibilidade de que essas coisas aconteçam conosco. Adorei!

    Pretendo ler em breve. Beijos!

    http://www.deixaela.com/

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  2. Oi Brunna, que resenha super empolgante!
    Mesmo eu que não curto muito distopias, fiquei bastante curiosa sobre a história e seu desfecho que te deixou tão assim... kkk
    Ótima resenha flor.
    Bjus
    Lia Christo
    www.docesletras.com.br

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  3. Oi Brunna!

    Memória da Água tinha me chamado total atenção quando a Record divulgou o lançamento e depois o book trailer. O enredo tá quase minha vida real, porque moro em São Paulo e já faz dois anos que estamos usando o volume morto da Cantareira, tem dias que ficamos totalmente sem água e ela só volta de madrugada, então esse enredo tá mais do que presente na minha vida mesmo que ainda não seja tão extremo quanto no livro, e vou ser sincera... A ideia desse livro... Não descarto em acontecer, em breve ou daqui 200 anos, mas no fundo acredito que possa acontecer sim. Então mais um ponto para eu querer me jogar nessa leitura.
    Sobre o final... Se ele for mesmo tão aberto como você citou (e não tem uma continuação), mais um motivo para eu querer ler HUAEHUAEHAUE Sou meio que masoquista porque adoro livros que não tem um final "final" HUAEHUAEA

    Beijos!
    ~nathália
    www.livroterapias.com

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    Respostas
    1. Erro meu, dois anos nada, faz um ano que estamos usando o volume morto da Cantareira* ~corrigindo KKKK~

      ~nathália

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  4. Ola!
    Eu nao li esse livro mais tenho a vontade de le-lo. Acho que pode ser interesante.
    Gostei muito da sua resenha.
    Beijinhos de Espanha.
    http://abracalibro.blogspot.com.es

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